Era bom ir ao jardim. E mesmo sem haver sol, os meninos sentiam os pés quentinhos e ficavam com as bochechas encarnadas de tanto correr e saltar.
Uma vez apareceu no jardim uma menina diferente: não tinha as bochechas encarnadas, mas uma carinha redonda, castanha, com dois grandes olhos escuros e brilhantes.
- Como te chamas? – perguntaram-lhe.
- Maria. Às vezes chamam-me Maria Castanha.
- Que engraçado, Maria Castanha! Queres brincar?
- Quero.
Foram brincar ao jogo do apanha.
A Maria Castanha corria mais que todos.
- Quem me apanha? Ninguém me apanha!
- Ninguém apanha a Maria Castanha!
Ela corria tanto! Corria tanto que não viu o carrinho do vendedor de castanhas que estava à porta do jardim, e foi de encontro a ele.
O saco das castanhas caiu e espalhou-as todas à reboleta pelo chão.
A Maria Castanha caiu também e ficou sentada no meio das castanhas.
- Ah, minha atrevida! – gritou o vendedor de castanhas todo zangado.
- Foi sem querer – disse a Maria Castanha.
- Foi sem querer – explicaram os outros meninos.
- Eu ajudo a apanhar tudo – disse a Maria Castanha, de joelhos, a apanhar as castanhas caídas.
E os outros ajudaram também.
Pronto. Ficaram as castanhas apanhadas num instante.
- Onde estão os teus pais? – perguntou o vendedor de castanhas à menina.
- Foram à procura de emprego.
- E tu?
- Vinha à procura de amigos.
- Já encontraste: nós somos teus amigos – disseram os meninos.
- Eu também sou – disse o vendedor de castanhas.
E pôs a mão no cabelo da Maria Castanha, que era frisado e fofinho como a lã dos carneirinhos novos.
Depois, disse:
- Quando os amigos se encontram é costume fazer-se uma festa. Vamos fazer uma festa de castanhas. Gostam de castanhas?
- Gostamos! Gostamos! – gritaram os meninos.
- Não sei. Nunca comi castanhas; na minha terra não há – disse a Maria Castanha.
- Pois vais saber como é bom.
E o vendedor deitou castanhas e sal dentro do assador e pô-lo em cima do lume.
Dali a pouco as castanhas estalavam… Tau! Tau!
- Ai, são tiros? – assustou-se Maria Castanha, porque vinha de uma terra onde havia guerra.
- Não tenhas medo. São as castanhas a estalar com o calor.
Do assador subiu um fuminho azul claro a cheirar bem.
E azuis eram agora as castanhas assadas e muito quentes, que o vendedor deu à Maria Castanha e aos seus amigos.
- Se me quiseres ajudar, podes comer castanhas, todos os dias. Sabes fazer cartuchos de papel?
A Maria Castanha não sabia, mas aprendeu.
É ela quem enrola o papel de jornal para fazer cartuchinhos, onde o vendedor mete as castanhas, que vende aos fregueses à porta do jardim.
Luísa Ducla Soares
- Depois de leres em segredo, lê o texto em voz alta, para os teus pais ouvirem.
- Se tiveres companhia, faz uma leitura dialogada.
- Se estiveres sozinho/a, tenta mais tarde, contar resumidamente esta história a um familiar ou amigo teu.